domingo, 15 de maio de 2011

"Ecologização" das sociedades


O povo diz, com a sabedoria que lhe é peculiar, que os otimistas podem, em sua caminhada, errar o caminho; mas que os pessimistas já começam tal jornada erradamente. Sempre ouviremos de muitos algo como: "De que valem leis tão boas, se não se tem contingente de funcionários ou vontade política para fazê-las valer?" No entanto, muito mais grave seria contarmos com multidões de funcionários que não tivessem boas leis para orientar suas atividades, pois, a importância das leis não deve ser reduzida ao imediatismo de sua plena aplicabilidade. O poeta e pensador alemão Goethe disse que, se procurarmos ver o ser humano tal como ele é apenas, acabamos por piorá-lo; mas se virmos o homem como é e tal como deve ser, podemos redimi-lo.
Temos sido muito mais prisioneiros da mídia (ou dos "mass media") do que podemos imaginar. Ora, os meios de comunicação de massa tendem sempre a criar uma psicosfera negativista, a qual põe em nós a impressão constante de que o ser humano, ao contrário de evoluir, vai de mal a pior. Afinal, o que é que faz notícia? Fazem notícia as exceções sociais, e principalmente as mais negativistas, como seqüestros, latrocínios, corrupções, agressões ao ambiente, etc. Esquecemo-nos de que milhões de seres humanos (e até bilhões) não seqüestram, não matam para roubar, não praticam homicídios, não são corruptos e procuram proteger o meio ambiente. À força de diariamente vermos, nos noticiários, as exceções sociais negativas acabamos por imaginar que elas são a regra; que resta pouco a fazermos por nosso mundo e por nós mesmos.
O filósofo e poeta espanhol Miguel de Unamuno escreveu: "É pena que ainda não se tenha escrito a história dos homens e mulheres sem história"; a história desses anônimos imprescindíveis, que se somam no mundo aos bilhões, mas não fazem notícia para os jornais e telejornais. Unamuno sugere que é nesses anônimos que devemos pensar para avaliarmos a situação atual, pois eles são a sustentação das ilhotas visíveis da história eventual – a dos acontecimentos impressionantes.
Emociona-nos ler, em um jovem autor como o já citado Rodrigo A. Musetti, o comentário que este faz a idéias do alemão Hans Jonas, escrevendo:
"Prevenir a degradação ambiental, preservar o que nos resta dos ambientes naturais e recuperar seus atributos ambientais é uma necessidade vital; em verdade, significa preservar o que resta de nós mesmos, seres humanos, e recuperar as condições que garantam nossa própria sobrevivência com qualidade. Não se trata de 'modismo ecológico', de 'bandeira verde', de 'ideologia de eco-chato', etc. Trata-se de responsabilidade ética e social da geração presente para com ela mesma e para com as futuras" (Musetti, 2001: 15).
Parte de umArtigo originalmente publicado na Revista Jurídica, Campinas, v. 18, n. 02, 2002, pp. 94-107. Regis de Morais – Doutor e Livre Docente em Educação. Professor Titular aposentado da Unicamp. Professor Titular convidado da PUC-Campinas. Professor Titular da UNISAL, Americana (SP). Professor do Curso de Direito do CREUPI. Autor de Sociologia Jurídica Contemporânea (Campinas: Edicamp, 2002) entre outros livros.

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