Ninguém
nasce sabendo ser democrático, sabendo dividir, respeitar diferenças e
direitos. Estes serão aprendizados de uma vida toda.
Uma sociedade democrática não é feita de suas leis e instituições. Estas são apenas abstrações jurídicas, só existem no papel.
Uma
sociedade democrática nasce das lutas pela cidadania e pela democracia,
e é feita por pessoas e pelo que essas pessoas escolheram convencionar
entre si, e também pelos seus representantes - que fazem e fiscalizam as
leis em nome de todos.
Numa
democracia nenhum indivíduo, por mais importante que seja, pode estar
acima das leis. Por isso, os que são escolhidos para fazer as leis e
fiscaliza-las, em nome de todos, merecem tanta importância. Entretanto, a
ação democrática não se esgota apenas com a transferência de poder, com
o voto na urna, mas vai além disso. Ser democrático é um estilo de
vida, uma forma de escolher estar no mundo e fazer a diferença. Alguns
escolhem ser totalitários, donos da verdade, ditadores, outros escolhem o
contrário, aceitam as diferenças de opinião, de idéias, como um fato
natural da vida.
A
democracia é viva. É um exercício de cidadania, uma construção de nossa
própria personalidade. Alguém que viva numa democracia mal compreende o
que é viver numa ditadura, e vice-versa, tão diferente são tais
realidades e visão de mundo.
Considerando
que não existe um único indivíduo igual ao outro no universo, o que
temos de comum uns com os outros são mais nossas diferenças que nossas
semelhanças. Então, parece ser de bom senso aprendermos a conviver com
as diferenças, aprender a negociar conflitos, reconhecer até onde vão
nossos direitos e onde começam os dos outros.
Somos
iguais em dignidade humana e perante a lei. Fora isso, somos todos
diferentes, e precisamos aprender a nos respeitar e aprender que a
diferença não é um demérito, mas uma vantagem evolutiva. Sempre que um
ecossistema perde sua biodiversidade se encaminha para o final. Na
natureza, quando mais diversos, mais fortes, quando menos diversos, mais
fracos.
Democracia
é educação e treinamento, e começa na família, desde a primeira
infância. Para quem tem irmãos parece mais fácil que para quem é filho
unico.
Uma
vez perguntaram a um especialista qual era a diferença entre educação e
treinamento e ele respondeu com outra pergunta: "Você educa ou treina
sua filha sexualmente?"
Famílias
e ambientes totalitários (tipo, 'quem manda aqui sou eu', 'cala a
boca', 'criança não deve se meter em assuntos de adultos', etc) não
ajudam a formar bons democratas, assim como ambientes permissivos
('passar a mão por cima') também não.
Nem sempre é fácil.
Às vezes, diante de certas diferenças, a distância parece ser a melhor estratégia. Às vezes, não.
Aprender
a ser tolerante, a respeitar as diferenças - mais que uma medida de bom
senso ( pois para ser respeitado também precisamos saber respeitar ), é
uma estratégia de ampliar nossas redes de relações para muito além dos
que pensam como nós, torcem pelo mesmo time, abraçam as mesmas causas
políticas e ideológicas.
Os
diferentes de nós nos acrescentam, nos desafiam a pensar, a melhorar
nossos argumentos, nos ajudam a apreciar a vida sem julgar, sem desejar
que o mundo seja a nossa imagem e semelhança, ampliam nossos horizontes.
Entretanto,
uma sociedade democrática pressupõe escolhas, decisões, e para
decidirmos, precisamos, por um lado, de informações e, por outro, de
valores.
Um
caçador, por exemplo, pode possuir mais informações sobre a fauna e seu
comportamento que muitos ambientalistas, mas não usa estas informações
para preservar a fauna, mas para extingui-la.
O
desafio para uma sociedade democrática e sustentável, é oferecer
informações ambientais verdadeiras, mas, ir além disso, e também
oferecer valores a serviço da vida e da sustentabilidade.
*Vilmar S.D. Berna é
escritor e jornalista. Fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação
Ambiental. É editor desde janeiro de 1996 da Revista do Meio Ambiente e
do Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio global
500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas
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