Por
Vilmar S.D. Berna*
Rótulos
são para os fracos que tentam fugir do debate por que não tem
argumentos.
É
exatamente do encontro com quem me desafia, me confronta, me
contradiz - claro, respeitosa e elegantemente - que tenho a chance de
exercitar melhor minha capacidade de argumentação, onde meus
valores e conhecimentos terão de ser testados, e posso sair do
debate melhor do que entrei, posso aprender, posso mudar, posso
ajudar o outro a aprender e a mudar também se ele quiser.
Quem
pensa diferente de mim não é meu inimigo. Apenas é uma pessoa que
pensa diferente de mim. Não é mais importante que eu por isso, nem
eu mais importante que ela.
Não
sou obrigado a ganhar todas as discussões, não tenho pretensões de
ser dono da verdade ou da razão, pois várias vezes já estive
errado. Muito menos me sinto na obrigação de convencer ninguém,
especialmente se já estiver convencido ou se recebe benefícios e
vantagens em não se deixar convencer.
Numa
democracia existem mecanismos para arbitrar as diferenças. Somos
livres para pensar o que quisermos, mesmo que contrarie as próprias
leis, mas nossas ações são limitadas pelas leis. Ou sofreremos as
consequências.
Sim,
certas diferenças são duras de suportar e nos testam aos limites.
Entretanto, não mudam o fato de que o pensamento é livre, enquanto
a expressão desse pensamento, e principalmente as ações que podem
resultar dele, precisa se subordinar as leis. Pedófilos,
torturadores, machistas, racistas, são o que são, livres, mas
responsáveis legalmente por suas palavras e ações.
A
democracia, apesar de todos as suas fragilidades, é um regime de
fortes, da força da lei sobre a vontade de grupos ou indivíduos.
Diferente de ditaduras - a esquerda ou a direita -, em que a verdade
é uma só e a liberdade do contraditório pode ser confundida com
subversão ao ditador de plantão.
Na
democracia, temos o direito igual de sermos diferentes sem sermos
discriminados por isso.
Não
existe meia liberdade. Se quero ser livre e exercer meus direitos de
pensar e ser diferente, preciso aceitar e aprender a conviver com a
diferença do outro, goste ou não.
Não
posso exigir que alguém goste de mim, de minhas idéias, mas posso e
exijo respeito.
O
mundo seria um lugar muito chato se todos pensassem igual.
A
natureza ensina, onde existe biodiversidade existe vida.
Como
no jogo de futebol, as palavras e as ideias são como a bola, que
passamos para outro. As vezes resulta em gol, as vezes precisa
começar tudo de novo do início. Se todos jogassem no gol, não
teria jogo.
Precisamos
de uma educação desde o início, em que nossas crianças
sejam estimuladas a lidar com os diferentes e a debater sobre as
diferenças.
Ninguém
nasce sabendo ser democrático. Democracia precisa ser
aprendida desde a família, na escola e na sociedade
inteira. A vida toda. O tempo da censura não tem lugar nas
democracias. Também não existe espaço nas democracias para o "cala
a boca, você sabe com quem está falando? Quem manda aqui sou eu!",
muito menos para 'zoacao'
ou 'trote' como ritual para ser admitido pelo grupo.
*Vilmar
S.D. Berna é
escritor e jornalista. Fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação
Ambiental. É editor desde janeiro de 1996 da Revista do Meio
Ambiente e do Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o
Prêmio global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio
Verde das Américas.